sábado, 30 de maio de 2009

O PRÉ-TEATRO E A FUNÇÃO DA MÁSCARA: – O FOGO BRINCANTE DOS PAPANGUS

Por: Frank Lourenço

Caminhando pelas ribeiras do Jaguaribe durante a “Semana Santa”, vamos encontrar nos vilarejos, nas várzeas e estradas, serpenteando por entre carnaubais, grupos de brincantes mascarados, chamados de Papangus. Essa manifestação presente no distrito de São João de Deus / Russas – Ce, caracteriza-se dentro do conceito de Pré-Teatro e traz na sua prática, grandes inquietações do homem, como as celebrações, os ritos e as representações coletivas e individuais a respeito da morte, do amor e do trabalho.
O grande objetivo desta prática espetacular é divertir e divertir-se. Para os brincantes não existe o espetáculo, não é uma apresentação ou representação cênica, eles não fazem para exibirem-se para um público. É uma brincadeira que permite folgar, perambular de uma comunidade a outra, dizer e fazer brincadeiras. Quebrar as normas oficiais do ofício sagrado da “Semana Santa”. Como no carnaval são três dias de liberdade, pois, suas identidades estão preservadas pelas máscaras e pela grande quantidade e tamanho das roupas, estão protegidos pela fantasia. É o brincar pelo prazer da diversão.São as almas penadas soltas no mundo, ligando presente e passado, mantendo a ordem no caos.
A máscara segundo Duvignaud, implica uma comunicação recebida e aceita, faz o espectador entrar em um círculo não real sugerido pelas formas que ela adiciona ao rosto humano.
A máscara tem como função a dissimulação, a proteção, a manifestação de uma presença do além, participação em uma casta privilegiada ou secreta, instrumento de dominação pelo temor ou identificação a forças incontroladas da natureza. Ela não só protege como também nos orienta no sentido de uma diferença; nos conduz sobre uma pista da cultura.
A máscara está posta para esta manifestação “espetacular” como a “fagulha” que acende o fogo brincante, pois “invoca uma atitude, um comportamento, uma pessoa imaginária, é criar uma realidade supra-real que se torna real pela comunicação que ela implica e pela mensagem recebida” (Duvignaud, p. 90).
A teatralidade que consiste em construir com o próprio corpo um outro ser diferente do seu, está presente no ato do mascaramento, construindo narrativas míticas como afirma Duvignaud.

“O ato do mascaramento, a representação real daquilo que é dito ou cochichado pela linguagem das narrativas ou dos mitos extrapola a mera encenação e o grupo exige muito mais do que a ilustração daquilo que se conhece. Encontramos o impulso que arrebata a sociedade inteira contra as ameaças, a negação coletiva da natureza destruidora, criativa e agressiva em suas manifestações (.) a perseguição do incansável diálogo com um cosmo cujas manifestações análogas às do “eu”, estimulam nos homens a capacidade singular de inventar e de imaginar, de usar disfarces para investir contra a eterna resistência do mundo. Como para os psiquiatras, o ventre fala nesses casos, o corpo inventa ou reanima uma linguagem”(p.90/91).

A teatralidade da brincadeira de Papangu está exatamente na máscara que faz o espectador entrar no círculo do não-real, sugerido por Duvignaud, envolvendo-se numa trama de alternância entre o real e o imaginário. O “ espectador” mesmo consciente da dissimulação se envolve nesse jogo de inter-relação da realidade e da imagem, acreditando por um momento na forma sobreposta no rosto dos brincantes. Essa inter-relação provoca medo e riso, une o terreno ao sagrado, o maravilhoso e o fantástico, abre as portas para os afetos místicos.
Esse “teatro sagrado” só existe naquele momento específico e não tem uma estrutura dramática, não tem roteiro, não tem personagens, não tem palco, nem atores, nem espectadores. Os brincantes são anônimos, portanto não buscam a fama pelo seu desempenho artístico. Os personagens são construídos pela identificação do brincante com sua máscara exteriorizando arquétipos e desejos miméticos de conjuração ou expiação. Não existe a interpretação cênica e sim a representação mimética, é um teatro primitivo, um pré-teatro efêmero, que se contrapõe aos conceitos estruturantes do teatro pautado em um tripé básico: texto, ator e espectador. Nele não existe o texto, nem o ator, nem o expectador. O brincante se envolve num jogo e cria uma realidade supra-real onde homem e animal se imbricam e se mesclam em padrões de comportamento ambíguo e imaginário.
Nesse jogo o brincante se trans-veste em pessoa ou bicho imaginário e no ato do mascaramento, representam como diz Duvignaud, “uma oportunidade, uma eventualidade de mudança da ordem das coisas ou do mundo, recordam a realidade do virtual ou do possível em uma ordem estabelecida que parece ignorá-lo”.
A carnavalização está presente na farra permitindo os extravasos e a libidinagem. As transformações ou atualizações da brincadeira, transformaram o bastão que antigamente carregavam para espantar os cães danados, no “pau das meninas”. Neles, escrevem o nome das moças que vão encontrando. As meninas pedem para lê os nomes que têm no pau e assinam também. Nesse momento os papangus mais gaiatos fazem brincadeiras obscenas.

“Isso aqui a gente coloca os nomes tipo esse ‘Maria do Socorro – Jardim de São José’, pras meninas assinar, porque aqui é o pau das meninas. As meninas pedem pra lê os nomes que tem no pau. Chegamos acolá aí a menina pediu pra vê o pau –‘mostra aí’ – aí num quis mais porque ela disse que era grande e grosso. Aí ela chegou pra esse pivete aqui e disse: ‘- deixe eu ver o seu!’ aí ela disse: ‘- esse aí tem que alisar muito’- Aí eu disse pra ela ‘- e o meu?’-é desse jeito macho... é divertimento sabe!? Não é pra ameaçar ninguém não!” (Brincante anônimo – Miguel Pereira / Russas - Ce).

Como no carnaval todos são foliões, brincantes e não-brincantes, todos entram na folia e extravasam, liberam seus instintos, principalmente as mulheres as quais não é permitido brincar mascaradas. Essa regra é ditada pela tradição: “Papangu de Russas é feito por homens, mulher não brinca não”. Esse pensamento é unânime entre os brincantes.
Esses extravasos tanto dos brincantes mascarados, quanto dos não-brincantes, retratam a violência da festa como ato de transgressão dos valores reprimidos principalmente a sexualidade. O extravaso da sexualidade como elemento de transgressão de valores, é uma agressão natural ao mesmo nível da morte. Dessa forma, como afirma Duvignaud, “nenhuma sociedade simboliza pacificamente e a metáfora esconde o medo”.
A teatralidade também se faz presente através do mito gestual. É impressionante a sensação que sentimos ao ver um grupo se deslocando pelas estradas das várzeas, serpenteando por entre carnaubeiras, para chegar como um pelotão de soldados que tomam de assalto uma casa isolada no meio do mato, ou quando entram em alguns espaços de diversão e se prostram com olhares e gestos esquisitos, extracotidianos, como que observando os presentes. O mito gestual na concepção de Duvignaud é mais rico que o narrativo, pois se remete a um “como se”. Nele estão inclusos o visual, os significados, o toque, o odor e a sinestesia a serviço da teatralização. Assim as pessoas da comunidade que não saem nos cortejos dos mascarados, não participam menos da manifestação, porque são afetadas pelo sentido sugerido por cada disfarce.
Ainda pela função da máscara poderemos destacar a proteção, a manifestação de uma presença do além, a participação em uma casta privilegiada ou secreta e ainda instrumento de dominação pelo temor ou identificação a forças incontroladas. Sua relação com teatro se dar pela invocação de uma atitude, de um comportamento, de uma pessoa imaginária. É a criação de uma realidade supra-real que se torna real pela comunicação que ela implica e pela mensagem recebida.
A máscara dos papangus dissimula, encobre, engana, remete a outros mundos do imaginário e do simbólico. Mikhail Bakhtin diz que:


O motivo da máscara é mais importante ainda. É o motivo mais complexo, mais carregado de sentido da cultura popular. A máscara traduz alegria das alternâncias e das reencarnações, a alegre relatividade, a alegre negação da identidade e do sentido único, a negação da coincidência estúpida consigo mesmo; a máscara é a expressão das transferências, das metamorfoses, das violações das fronteiras naturais, da ridicularização, dos apelidos; a máscara encarna o princípio de jogo da vida, está baseada numa peculiar inter-relação da realidade e da imagem, característica das formas mais antigas dos ritos e espetáculos. O complexo simbolismo das máscaras é inesgotável. Basta lembrar que manifestações como a paródia, a caricatura, a careta, as contorções e as “macaquices” são derivadas da máscara. É na máscara que se revela com clareza a essência profunda do grotesco. (Bakhtin p.35).


E assim, munidos pelo espírito dionisíaco, por esse desejo de festa e pelo prazer de ser o “outro”, de te-atar ou teatralizar, os brincantes de papangu em Russas vêm mantendo a tradição. Talvez, como diz Duvignaud, pela “perseguição do incansável diálogo com um cosmo cujas manifestações análogas as do ‘eu’, estimulam nos homens a capacidade de inventar e de imaginar, de usar disfarces para investir contra a eterna resistência do mundo”. Eles reinventam o mundo real e resistem ao tempo e às adversidades e mantém uma prática que já dura quase um século. Permanecem num cenário em que já pereceram várias outras manifestações culturais bem mais organizadas e com relativas bases de sustentabilidade.


Abril de 2003
Russas – Ceará – Brasil.

O FOGO BRINCANTE

Por: Flávio Gonçalves
Com Relatos Críticos de Frank Lourenço


Nos dias 10 e 11 de Abril de 2004, véspera de Páscoa, os alunos do Projeto Brincantes de Teatro dirigiram-se ao distrito de São João de Deus, afim de realizarem uma pesquisa de campo, que constaria em experienciar a manifestação dos papangus.
O distrito de São João de Deus, município de Russas, Estado do Ceará, é um lugar aconchegante, cortado pelo Rio Jaguaribe/Banabuiú e cercado por uma natureza exuberante que se desenvolveu manifestações espetaculares tradicionais como Bumbas-meu-boi, cantadores, emboladores e repentistas. Misterioso com seus "bueiros" e trilhas, é um universo fantástico para se desvendar os segredos da cultura popular.
A comunidade de certa forma é um pouco contida. Normalmente não se vê muita gente nas ruas; as crianças foram as que mantiveram uma maior relação conosco, respaldados pelas vezes passadas que lá estivemos. Também existiam inúmeros papangus que se aproximavam e adentravam na casa para conversar freqüentemente. Eles eram bem vindos, já que se tratavam de nosso objeto de estudo.
De toda aquela gente, uma pessoa me chamou a atenção, não sei se pela sua inocência, espírito lúdico ou mesmo a espontaneidade com que falava, só sabe que vi nele a "figura" daquele povo, suas estórias de "malassombro", suas crenças e suas superstições. O simples fato de só pronunciar o a palavra "cão", se referindo ao diabo, no meu ouvido, me causou grande impressão. O pequeno Fabrílio, me fez abrir a mente para interpretar o modo de vida e o imaginário daquelas pessoas. Pensei quem realmente era a gente com quem convivemos naqueles dias.
O processo do imaginário parte de imagens primeiras e liberta-se do real, projeta-se uma correlação entre os objetos e os sujeitos que percorre desde o real que aparece figurado em imagens, até a representação possível do real. Assim o imaginário pode libertá-se do real e inventar, figurar, improvisar, sintetizar, ou fundir imagens.
Mais uma vez o projeto Brincantes se hospedara na "casa". Essa era a terminologia que se designava a residência na qual usávamos como base, um quartel general que nos causou estranhamento por suas dependências, na qual nos deixavam com uma impressão valiosa.
A casa em si, já fazia parte do universo brincante, com seu jeito imaginativo e também chamativo. Está na Casa realmente engrandeceu nossa pesquisa e certamente serviu como prévia do que vivenciaríamos no decorrer da pesquisa.

" A Casa estimulou a imaginação criativa e aflorou o imaginário fantástico dos alunos do Projeto"

O Nosso Objetivo no Distrito de São João de Deus era pesquisar a manifestação dos Papangus, tentar compreender aquelas pessoa, brincantes populares, que na Semana Santa se provém de máscaras e fantasias improvisadas e andam em bandos comunidade a fora.
Muita coisa para a gente era duvidosa, não tínhamos nenhuma certeza clara de quem eram os Papangus, e que tipo de gente brincava e nem seus objetivos. Acima de tudo, precisávamos compreender a manifestação quanto a representação observando pontos que poderiam serem vistos e confrontados com os do universo teatral. Lá estávamos, em busca do Homem em seu momento "natural" espetacular.
Apesar do sentido atribuído pêlos brincantes, no qual os papangus são os filhos do Iscariodes ou soldados romanos de Herodes que saem para prender o Cristo, essa trama não aparece em forma de encenação ou entremez. Não existe a representação cénica, é um teatro primitivo, efémero, que se contrapõe aos conceitos estruturantes do teatro que pautam o mesmo em um tripé básico: texto, ator e espectador. Aqui não existe o texto, nem o ator, nem o espectador. O Brincante se envolve num jogo e cria uma realidade supra-real onde homem e animal se imbricam e se mesclam em padrões de comportamento ambíguo e imaginário.
Além da máquina fotográfica e filmadora, outro material foi utilizado na pesquisa: o nosso próprio corpo. Ao invés de só observarmos, desta vez vivenciáramos e experienciaríamos a brincadeira. Confeccionamos nossas próprias máscaras, criamos nossas roupas e saímos pela comunidade, interagindo e ao mesmo tempo observando.
Experimentando uma forma mais introspectiva de entender os brincantes populares, tentamos encontrar e absorver dentro das possibilidades, o seu mais profundo âmago, aquilo que por nós é considerado o "Fogo Brincante" - essa energia que contagia o espectador e prende sua atenção a este momento espetacular, onde o brincante se entrega ao fazer e se liberta de suas "vestes" queimando-as na sua própria fogueira, acessa pelo seu próprio fogo. Essas "vestes" - tabus, preconceitos, estereótipos, clichés, "cotidianismo" são completamente carbonizados nestas labaredas e como produto desta combustão surgem novas vestes que agora não mais o ser humano no seu estado frio (normal), mas sim um estado espetacular. Entra em um processo de "autopirofagia", queimando o "velho eterno" e fazendo renascer das cinzas incandescentes o "novo momentâneo"
Dessa forma, o Fogo Brincante pode ser considerado fonte de energia que alimenta e liberta o homem para adentrar em um mundo mágico lúdico, imaginativo e conscientemente - inconsciente. Encontrar o Fogo significa encontrar a essência, a fórmula química, a porção mágica, a equação matemática, a lei física, a teoria que rege todos brincantes populares. É ser capaz de queimar as "vestes" do 'Velho eterno" e vestir as " vestes" incandescentes do "novo momentâneo". É ser verdadeiramente um brincante.
Observando os brincantes populares, me inquietou a necessidade de saber o que lhes causava a vontade de "brincar", ou mesmo o que faz essas pessoas acenderem o fogo brincante. O que faz, por exemplo, um homem sério se vestir de mulher, ou então, ficar horas dançando debaixo de um pesadíssimo boi?
Para que o fogo venha à tona pelo brincante, ele passa por um processo de aquecimento, que é ocasionado por diversos tipos de estímulos que denominei de "fagulhas". As fagulhas podem ser uma música, uma situação, um estímulo visual, um impulso religioso ou até mesmo o efeito estimulante do álcool. Após ter sofrido efeito das fagulhas o brincante inicia um processo no qual denominei de "Estado Autopirofágico". Ao acessar esse estado, o brincante ativa o fogo brincante e o mantém enquanto o estado durar.
A fase de transição entre a fagulha e o Estado Autopirofágico dei o nome de "Eminência Autopirofágica", no qual se observa o "Ponto de fagulha", que é o lugar visível do corpo do brincante onde se inicia a "Autopirofagia."
A Autopirofagia é a manifestação física do fogo brincante e o Estado Autopirofágico é um estado mental, combustível para a Autopirofagia, ou seja, o Brincante acessa um estado psico-físico neste momento.
Quando estive fazendo o percurso vestido de papangu, me senti vazio, sem objetivo, nada fazia sentido, ainda não era conhecedor do Estado Autopirofágico. Como teoria, tinha experimentado algumas vezes em momentos inconscientes.
Porém um fato me fez percebera fagulha acendendo dentro de mim, mesmo que rapidamente:
-Rosenildo (ator-pesquisador do Projeto Brincantes de Teatro) ao saltar da sua bicicleta perseguindo um grupo de crianças me fez vê rostos amedrontados e suas fugas desesperadas. Esse estímulo, definitivamente, me causou uma inquietação, uma sede de vê novamente aquilo. Aquele estímulo visual era a fagulha que acendera em mim.
- Evolui até a "Eminência Autopirofágica", porém, por falta de mais fagulhas - nós nos distanciamos das crianças - não atingi o estado "Autopirofagico" . Sequer notei a presença do ponto de fagulha, regredi e voltei ao estado frio.
Ao entrevistar Tatiana ( atriz-pesquisadora do Projeto Brincantes de Teatro), também identifiquei estes processos. Segundo ela, os olhares de algumas crianças por trás da porta lhe chamou atenção para assustá-los. Mais uma vez se identificava a presença da fagulha como fator primordial para se acessar o estado "Autopirofãgico".
Nos dois casos a fagulha evoluiu tão rapidamente que o ponto de fagulha logo e se espalhou por todo o corpo dos Atores-Brincantes, não podendo se definir em que parte do corpo exatamente ele apareceu.
Precisamos investigar e experimentar mais esses estímulos - fagulhas, fazer mais inferências sobre as resignações. Acredito que o caminho está sendo trilhado , palmilhado, mas ainda é muito incipiente as pesquisas para se chegar a conclusões. No entanto, levanto algumas problematizações:
- Será o "Fogo Brincante" algo como uma paixão. Aquela força que fez com que D. Neném (Mestra de Drama e Pastoril da comunidade de Pitombeira I) se referir à "Fogueira da Alegria"? Essa imagem - representação da fogueira - tem como simbolismo a purificação e traz uma metáfora das mágoas do não realizado; Do êxtase dos momentos sublimes do ato espetacular, da beleza e das alegrias catárticas. Refere-se a tudo que ela fez por amor, pelo prazer de se apresentar, pelo desejo de se expressar em forma de música, dança e teatro - Seria esse fogo a essência de ser Brincante? Esse ser que dança, canta, representa cria e recria, faz da sua arte o seu prazer e o seu trabalho. Dona Neném tornou-se o próprio Pastoril, ela inventou as músicas, as coreografias, as indumentárias. Tornou-se criadora e criatura numa simbiose da "artista" com a "obra de arte". Criou a Fogueira da Alegria, o fogo do amor que consume a paixão.
- Será esse Fogo, o Élan que nos fala a Antropologia Teatral? Em todo caso precisamos investigar e experimentar para então compreender o " Estado Autopirofagico" de representação dos Brincantes Populares.
Sem sombra de dúvidas, esta pesquisa engrandeceu demais nossa compreensão, não só da manifestação dos Papangus, mas de tudo que diz respeito as manifestações populares espetaculares.
Serviu como reflexão do meu fazer teatral na busca de um teatro menos "preocupante". Ser o Papangu não é tentar interpretar outra pessoa e sim, ser você mesmo em um estado de auto-conhecimento em que você adentra em seu própio universo inconsciente e sofre uma metamorfose simples em que só se tem prazer.
O futuro de nossos folguedos está na continuidade das fagulhas. É necessário que o povo as tenham e as mantenham. Perder fagulhas e não acessar o Estado Autopirofágico , ocasiona a perda do significado, do gosto em fazer e com isso a total extinção da manifestação. Enquanto houver prazer haverá também iniciativa própria.
Cabe, mais uma vez, a nós pesquisadores tentar entender esse prazer e fazê-lo retornar a comunidade e com isso resgatar o fogo que está se apagando